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Com uma engenhosidade fora do comum e grande propriedade temática, “Pequenos Poderes” evidencia os abusos da nossa cultura

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Em cartaz no Teatro Gláucio Gil, o espetáculo “Pequenos Poderes” traz quatro atores muito bem afinados, que se revezam magistralmente em quadros e personagens que evidenciam os abusos e locupletações cotidianas da nossa cultura. Os atores Andy Gercker, Bia Guedes, Mariana Consoli e Zé Auro Travassos nitidamente gozam de muitos recursos interpretativos, lançando mão de arquétipos, sotaques, trejeitos e gestos muito bem executados. O comprometimento em cena e o domínio do ofício garantem um bom trabalho. Desde o bullying sofrido por um aluno, o acuamento de minorias, até as contradições sexuais são temas da peça.

As cenas, muito bem amarradas com ágeis trocas de figurino, são uma fonte de reflexão sobre a natureza injusta da vida social e os vários aspectos incômodos da convivência. Para isso, são denunciadas as pequenas prerrogativas de que todos nós utilizamos para nos afirmar e para diminuir o próximo. Os estereótipos são atacados, com um humor muito agradável, e uma mensagem desconcertante é passada com muita sutileza.

Até onde vamos com nossos pequenos poderes? Um assalto ao banco que nos faz repensar relações econômicas, uma entrevista em um talk-show que questiona os valores morais contemporâneos, confissões na sacristia que nos ajudam a entender o que é certo e o que é errado: são provocações e escárnios necessários e que traduzem a verdadeira importância do Teatro como ferramenta de transformação.

Breno Sanches, o diretor, acertou em cheio na intensidade e veemência que possa ter demandado dos atores e, em tudo mais. Sem exageros (é uma peça cujo cenário e figurino serve comedidamente aos propósitos da interpretação – não há extravagâncias neste ponto), o palco e os objetos foram inteiramente explorados, assim como houve adequação da trilha sonora (que também é meramente utilitária).

O texto de Diego Molina é um elemento à parte. Com uma engenhosidade fora do comum e grande propriedade temática, a premissa é muito rica e tem grande poder de afetação do público. Da mesma forma, não subestima a inteligência do espectador, oferecendo estruturas elaboradas de crítica e identificação. Em tempos de passar o país a limpo, uma mea culpa em forma de peça cai bem. Assim, o espetáculo configura mais um concerto de boas atuações e de um bom argumento textual – atores bem treinados com uma falas explosivas – que uma montagem ordinária.

SERVIÇO:
Teatro Pequenos Poderes
Local: Teatro Glaucio Gill – Praça Cardeal Arcoverde, s/nº – Copacabana
Temporada: de 24 de novembro a 16 de dezembro
Horários: quintas e sextas, às 20h
Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia)

Felipe Mury
Felipe Mury
Felipe Mury é ator formado pela Casa de Artes de Laranjeiras e bacharel em Direito pela UFRJ. Amante das Artes Cênicas, especializou seu olhar em relação ao Teatro, sendo uma ficcionado por Shakespeare e Brecht.

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