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Produção chinesa, “A Grande Muralha” mostra diferenças culturais em seu roteiro

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a grande muralha A maneira de lidar com problemas, como as pessoas se relacionam em ambientes de trabalho, a forma como ocupam as ruas aos fins de semana, a importância que os idosos possuem na sociedade, a hierarquia, o coletivismo e o individualismo. Essas e muitas outras questões culturais são extremamente diferentes ao analisarmos a maneira ocidental e oriental de ver o mundo.

O diretor Zhang Yimou trouxe para o mundo ocidental um pouco da visão asiática de ver o mundo e de abordar o cinema com dois lindos filmes que ficaram conhecidos mundialmente e marcaram sua filmografia, “O clã das adágas voadoras”(Flying daggers) e “Herói”(Hero). Sendo assim, o novo filme do diretor era bastante esperado, principalmente, considerando o altíssimo orçamento estimado em $150 Milhões, o colocando na posição de filme mais caro já produzido inteiramente na China.

A produção é uma parceria entre diversas produtoras chinesas e americanas. E, levando em consideração o investimento feito, é importante considerar que para ter o retorno esperado o filme precisaria de um apelo ocidental.

Inicialmente, com o lançamento do trailer, o filme gerou alguma repercussão negativa, com a aparente presença de Matt Damon como o salvador da pátria, levantando questões de branqueamento (Whitewash) da produção para tornar o longa mais vendável internacionalmente. Críticas essas duramente combatidas pela produção do longa.

As grandes diferenças culturais entre ocidente e oriente se refletem muito nitidamente na produção cinematográfica. Não é difícil diferenciar filmes asiáticos de filmes ocidentais, além dos elementos culturais e da temática, mas também pela abordagem e uso de linguagens muito diferenciados.

O choque cultural acaba sendo um personagem de grande importância em “A Grande Muralha”, e através dele caem por terra as preocupações com o fato de o personagem de Matt Damon ser retratado como o Branco Europeu que chega entre os menos evoluídos para salvar o dia, surgido inicialmente.

Já nos momentos iniciais o filme de Zhang Yimou nos deixa a par de que, aparentemente, a construção da muralha para proteção contra a ameaça de invasão por tribos vizinhas, vai além da proteção contra outros humanos e está envolta em muito misticismo e lendas. E a história de “ A grande muralha” se baseia em uma dessas lendas. A Perspectiva de adentrar um universo cultural tão rico quanto o chinês é animador, ainda mais considerando o histórico do diretor em criar lindas cenas com combinações muitas vezes de tirar o fôlego entre cor e movimento.

Acompanhamos um bando de mercenários a procura de “pó negro”, conhecido atualmente como pólvora, descoberta na China no século I. O grupo é surpreendido por uma espécie de “criatura” com a qual lutam sem saber muito bem do que se trata. William and Tovar, vividos por Matt Damon (Jason Bourne e Perdido em Marte) e Pedro pascal (Game of Thrones e Narcos), que sobrevivem carregando um pedaço do monstro. Pouco tempo depois são capturados pelo exército chinês, que se prepara para uma batalha que se aproxima.

O fato de os mercenários possuírem parte da criatura informa ao exército chinês que a guerra está muito mais próxima do que o imaginado. E o fato de terem sozinhos matado uma das criaturas acaba dando aos estrangeiros uma espécie de simpatia maior por parte dos comandantes do exército chinês E, assim, os dois companheiros acabam se vendo prisioneiros em meio a uma batalha diferente de tudo que já viram.

O plano de roubar a pólvora dos chineses e comercializa-la começa a enfraquecer a medida que William (Matt Damon) começa a se fascinar pelo exército chinês, que vai de encontro a tudo que ele conhece e acredita entender como certo e erado. O invés de ser o herói, o personagem de Damon não passa de mais um soldado, mais um peão na coletividade do exército. E a desconstrução de suas visões individualistas dão lugar ao entendimento da importância de valores como a confiança, o sacrifício e a coletividade.

Infelizmente, a construção dos personagens é muito superficial e eles não são capazes de criar muita empatia e se conectar nem com o público, nem entre eles. A energia de “camadaragem” entre Tovar e William é inexistente, reflexo da péssima química entre os atores. E a presença deles e a tentativa de fazer funcionar a dinâmica entre eles é um grande ponto negativo no filme como um todo, prejudicando seriamente o ritmo do filme, uma vez que, as interrupções na trama para o apelo ocidental com os diálogos engraçados, simplesmente, não funciona.

Quem se destaca é Tiang Jin, no papel da comandante Lin Mae, mas ainda assim o excesso de diálogos em inglês, parece não sair de graça, deixando-a por vezes engessada. O filme também conta com outros grandes atores chineses como Andy Lau (Clã das adagas voadoras), Hanyu Zhang, Eddie Peng, Kenny lin, mas todos em papéis de pouco destaque e personagens pouco desenvolvidos. Assim como o quase vilão de Willem Dafoe, que é um desperdício do ator.

O filme é uma aventura/ação fantástica, então não é surpresa que para os nossos padrões tudo seja fruto do absurdo. Repleto de CGI com cara de CGI, considerando que lagartos gigantes não existem, isso não pode ser considerado um problema, mas, de alguma maneira, algumas das imagens, podemos dizer até que são meio cafoninhas.

O filme tem uma série de momentos muito distintos que parecem atender às necessidades diferentes. Batalhas épicas, intercaladas com diálogos e piadas altamente americanas, precedidos por cenas que te fazem lembrar que, na verdade, esse é um filme estrangeiro.

Movimento e cor são elementos típicos dos filmes do diretor e proporcionam sempre momentos deslumbrantes. E esses são os melhores momentos do filme, aqueles em que, nitidamente, estamos diante de uma produção chinesa, envoltos em sua cultura e transportados por seu olhar. As cenas de ação exemplificam bem isso, o exército é uma unidade. A batalha é como uma dança coreografada em que cada célula têm seu papel, mas sempre de forma a completar algo maior, sempre com o senso de pertencimento a um todo que é muito mais valioso. Essa ideia da coletividade está presente também na estrutura organizacional e de ataque dos Tei Tao. As cenas de batalha são imponentes, muito bem dirigidas, nos remetem ao conhecido estilo de Zhang Yimou, grandiosas explosões, quase como se fossem coreografadas, de cor e movimento, de saltar aos olhos.

Infelizmente, o filme é bem irregular e tendo na construção dos personagens, e no roteiro seus maiores problemas o filme acaba sendo muito menos do que poderia ter sido. O que nos faz concluir que muitas vezes menos é mais. No caso, menos dinheiro, menos interferências, menos piadas ocidentais, menos necessidade de tentar agradar o público, e mais, muito mais China e Zhang Yimou.

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