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Estereótipos e clichês em “Lino: Uma aventura de sete vidas”

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100 anos de cinema de animação brasileiro, foi em janeiro de 1917  que o curta-metragem Kaiser, dirigido pelo cartunista Álvaro Martins, era lançado. A charge animada é considerada o primeiro filme de animação brasileiro. Em um ano de tantas produções significativas e importantes para o cinema nacional, Lino é uma deliciosa surpresa como representante do gênero de animação, tão querido por adultos e crianças, já que as produções nacionais do tipo a chegarem ao circuito são bem poucas.

O mercado de animação é bem restrito ao cinema americano, com lufadas de frescor do cinema asiático, que tem seu forte representante nos estúdios Gibli, considerado por muitos, inclusive, como o que há de melhor no cinema de animação.

Lino é, definitivamente, um filme cheio de boa vontade e coração, mas nem só de amor se faz um filme de qualidade. Apesar de sua importância para o mercado e de alguns acertos, o filme apresenta problemas, alguns mas sérios outros nem tanto.

Lino é um perdedor, como poucos vistos no universo da animação, um personagem cheio de melancolia e complexidades, que o tornam imediatamente engraçado e de fácil identificação. Daquelas pessoas, que fazem parte da vida de todo mundo. Quem não é o próprio azarão tem um amigo ou conhece alguém assim. Tudo que pode dar errado pra ele dá errado, só que, ao mesmo tempo, ele é desmotivado e desinteressado e não faz nenhum esforço pra ajudar a própria sorte. Esse primeiro momento de construção do personagem e de sua “tragédia” é excelente.

Lino começa a fazer um bico como animador de festas infantis, usado uma fantasia de gato gigante. O trabalho que deveria ser um bico acaba durando por anos. Um apartamento sujo e ruim, um emprego humilhante, a vida pessoal inexistente refletem o momento terrível de Lino, que o leva a procurar uma ajuda mágica, já que ele próprio não tem força vital pra correr atrás de melhorar sua própria condição, culpando o azar por todo o mal que o aflige. Obviamente, isso também vai dar errado e ele é transformado em um gato gigante.

A partir daí, o protagonista deságua em uma série de desventuras inusitadas das mais diversas sortes, que juntamente com a direção de Rafael Ribas (O Grilo Feliz e os Insetos Gigantes, 2009), garantem um ritmo acelerado, capaz de prender a atenção dos pequenos, que aparentemente são o público alvo do filme.

Lino tem uma trama leve e de pouca profundidade, que acaba por restringir o público alvo à crianças de uma faixa etária mais baixa, o que é uma pena, considerando que atualmente a animação tem um alcance de público muito grande.

Um dos grandes problemas do roteiro é usar como base de comédia o velho modelo “filmão americano”. Uma série de clichês e piadas prontas não boas, que fazem com que o filme perca muito em qualidade e originalidade. Isso dificilmente será um problema para crianças de menos de 7 anos, mas em um mundo em que as crianças estão tão conectadas e cheias de informações dinâmicas e acesso aos mais diversos tipos de conteúdo, esse modelo repetitivo ,igual a tudo que já se viu muitas vezes em outros filmes, corre o risco de se tornar pouco atrativo para o público para além do infantil.

Outra escolha ruim é o uso de estereótipos como acontece, por exemplo, com a maneira que os indígenas são retratados. O que de cara é um equívoco, o fato de fisicamente eles possuírem um biótipo muito mais próximo do anglo americano do que do indígena sul americano presente no território brasileiro. Mas para além de como são retratados fisicamente há todo um equívoco com relação a maneira preconceituosa com a qual são abordados, levando uma ideia completamente errada ao público. Isso é também uma oportunidade desperdiçada de fazer um filme com que pudéssemos nos identificar mais, com elementos da cultura nacional mais presentes.

Um dos destaques fica por conta das dublagens com Selton Mello, em um ano muito prolixo em cartaz também com o filme da minha vida, como Lino, e Dira Paes com a polícia Janine. O elenco conta também com Paolla Oliveira, como Patty.

Infelizmente esses detalhes como todo acabam prejudicando a obra, que tem também seus méritos e sua importância para o momento do cinema nacional. Junto com as atuações, a proposta é interessante; a questão da vida moderna, o tédio, a responsabilidade, elementos tão questionados atualmente pela forma como as novas gerações e relacionam com o mundo são interessantes e atuais dando mais alguns elementos positivos para o filme.
Lino deixa aquela sensação de estarmos no caminho certo com relação ao gênero de animação, mas com muita coisa a aprender, quem sabe nos valendo do que sabemos fazer melhor que é ser brasileiro, inclusive na maneira de ver o mundo e fazer cinema, já que para Lino o jeitinho brasileiro acabou fazendo falta.

 

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