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“PELA JANELA”: A BUSCA PELO RECOMEÇO NA TERCEIRA IDADE

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Uma demissão, suas consequências, a relação entre dois irmãos e uma viagem à Argentina – estes são os pontos que guiam a trama de Pela Janela, primeiro longa metragem da diretora paulistana Caroline Leone (responsável pelo curta “Joyce”, de 2006). O enredo acompanha a jornada de Rosália (Magali Biff), que, com mais de sessenta anos, é demitida após a fábrica onde trabalha passar por reestruturações. Como já é sabido, uma demissão é capaz de afetar profundamente uma pessoa, ainda mais alguém da terceira idade. E é isso que acontece com Rosália, que perde o rumo, a auto estima e o interesse pela vida. Assim, ela acaba embarcando em uma viagem com seu irmão, Zé (Cacá Amaral), que irá realizar um serviço nas terras hermanas.

Em seu dèbut na direção de um longa, Caroline cai de cabeça no mundo de sua protagonista, fazendo um estudo de personagem naquele já conhecido esquema “Realizador(a) e sua Musa”, e é desta forma que Magali reluz. Mais conhecida na cena teatral, a atriz já participou de algumas produções cinematográficas, no entanto, este é seu papel de maior destaque. Na pele de Rosália, ela mergulha nas emoções da personagem de forma avassaladora, mas sem explosões, gritos e lágrimas – as quais surgem em alguns momentos, porém de maneira contida, e este é o trunfo da interpretação: a utilização dos silêncios, do olhar alheado, da vaguidão existencial. Magali exprime a dor de Rosália de um jeito muito simples e natural, tornando-a extremamente comovente.

Além disso, um dos acertos do roteiro é o uso das analogias. Por exemplo, em determinado momento da viagem, Rosália compra uma panela de pressão – a qual carrega por boa parte do filme, ou seja, é uma representação dela mesma, com suas emoções sempre comprimidas. Outro exemplo é a passagem pelas Cataratas do Iguaçu, em que a queda d’água seria uma representação da necessidade de renovação, regeneração, que a personagem almeja e precisa. Neste contexto, Zé, o irmão, é um ponto importante, pois, ao mesmo tempo em que afasta Rosália da conhecida São Paulo – e do estado de lamentação -, oferece o apoio emocional que a irmã necessita para seguir esta jornada em direção à desconhecida Buenos Aires. Assim, a simplicidade do homem e a busca por um motivo para continuar da mulher constroem uma relação fraternal terna.

Com isso, a direção sensível do filme vai aproximando, sem pressa alguma, personagens e espectador, que compreende que, na verdade, Rosália não está de luto pelo emprego perdido, e, sim, pela perda do que estava acostumada – aos sessenta anos, já acomodada em sua existência, ela perdeu a existência que conhecia e, agora, vê-se obrigada a recomeçar. Assim, Pela Janela revela-se uma produção delicada sobre recomeço, idade, família e autodescoberta, mas também aborda, mesmo que tangencialmente, questões políticas, de trabalho e sociais – é um filme para ser assistido, analisado e discutido.

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