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Nos bastidores do Visagismo: Beto Carramanhos fala da importância da profissão

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Cabeleireiro, visagista, maquiador, mais do que tudo um artista em todos os seus trabalhos. Beto Carramanhos desde cedo soube que seria artista. Conhecido popularmente pelo o quadro “Você mais poderosa” no programa de Ana Maria Braga, nas manhãs da TV Globo, o cabeleireiro e maquiador, é um dos visagistas mais requisitados do Brasil, Beto atua nos bastidores de grandes produções teatrais e musicais, desde o inicio da Era musical no país. Já trabalhou inúmeras vezes com a dupla Charles Möeller e Claudio Botelho, com quem muito apreço. Já foi indicado 7 vezes para o prêmio Avon Color de Maquiagem e é responsável pelo Visagismo de mais de 49 espetáculos de teatro. Seu talento foi reconhecido em tantas áreas que hoje é uma pessoa versátil e de conversa fácil. Confira como foi o nosso bate-papo com ele por telefone.

 Como foi o convite para trabalhar na área de Visagismo? Qual foi a sua primeira peça?
Beto Carramanhos – Tudo começou o Celso Andre, que me apresentou a Karen Acioly, ela tava montando “Pianíssimo”, do Tim Rescala, um teatro musicado, com a Drica Moraes. Eu fui chamado para dar uma envelhecida na peruca de um personagem. Dali eu fui apresentado ao Charles Möeller que estava atuando em “A gaivota”, de Tchekov. Dai surgiu uma grande amizade, desde o inicio, e paralelamente com todas as peças envolvidas. Praticamente, começamos juntos, na época não tinha muito dinheiro, a gente trabalhava com o que tinha. Foi uma época onde o Visagismo não existia no teatro.

Foi através da vinda dos musicais para cá, através do Charles e do Claudio montando musicais, como “As Malvadas”, aonde eu pude assumir realmente o visual de cada atriz. Ai é uma cachaça, né. Fui chamado para cá, para resolver problema dali, e até que a coisa foi se profissionalizando.

Muita gente não sabe da importância do Visagismo no teatro, você poderia definir a importância do visagismo?

Beto Carramanhos – É de extrema importância. Eu, o Anderson Bueno, entre outros profissionais, lutamos muito para que essa categoria seja incluída nos prêmios, seja como iluminador, figurinista. Essa necessidade de ter um profissional cuidando nessa área veio de acordo com a grandiosidade que os espetáculos estão sendo montados. Dá necessidade de um trabalho mais elaborado.

Eu nem gosto muito da palavra Visagismo. No visagismo você cuida do visual como um todo. No caso de personagens para teatro, o mais adequado seria caracterização, maquiagem e cabelo. Eu acho que é de extrema importância até por que cada ator reage de um jeito. Tem ator que só encontra o personagem, só sente seguro no papel, depois que se veem caracterizados. É muito importante, a gente aprende a cada musical, a cada peça. A gente faz pesquisa, trabalha junto com o figurinista, com o diretor para chegar em soluções como em “Cinderella”, por exemplo, quando ela dá uma rodada no meio da cena e solta o vestido, se transformando em outro, tira o lenço que tá preso num rabo de cavalo falso e por dentro dele já tá a peruca, a coroa tem uma mola, que conforme puxa o lenço, ela sobe. Então, é esse tipo de coisa que dá o gás para gente continuar. Por que essas soluções é que são gostosas, são os desafios da profissão. Cada trabalho é um desafio, alguns com muito dinheiro, médio, outros nem tanto, e a gente tem que se adequar a situação. Além do fato da situação da cultura no nosso país estar muito complicada. Em “Se meu apartamento falasse”, com Marcelo Medici , eu tive que reciclar a maioria das perucas, eu tive que trabalhar com pouco, e é nessas horas que a gente exerce a nossa criatividade.

 Você já trabalhou algumas vezes com Charles Möeller e Claudio Botelho, pessoas de extrema importância na historia do teatro musical no Brasil, como foi trabalhar com eles?
Beto Carramanhos – Então, eu trabalho com o Charles, desde o inicio da vida, praticamente, e o Claudio, que fica mais na área musical, meu contato com ele é muito interessante. O Claudio é uma pessoa inteligentíssima, com um humor inteligentíssimo, e ele sabe, alias, todos os dois sabem muito o que fazem, e eu sou muito fã, não é o tipo de pessoa que esta ali por sorte como muito gente. Às vezes ele dá pitacos que a gente não espera. Eles estudam, eles sabem, eles têm prioridade! Em casa musical eu aprendo cada vez mais, seja nos workshops ou no papo de botequim. É muito bom quando você tem admiração pela pessoa, você aprende com ela e ainda é amigo dela. Eu só tenho a agradecer. Eu e o Charles a gente se comunica, se entende pelo olhar, sabe, eu sei quando ele não gosta, acha que pode melhorar, a gente tem essa sintonia. Tem muita história para contar! Eu me orgulho muito! A minha cultura hoje em dia é muito maior em função das coisas que eu aprendo com ele.

Você tem um currículo de respeito no teatro como visagista, você conseguiria destacar as produções que mais te marcaram e por quê?
Beto Carramanhos – São tantos espetáculos. A última vez que contei foram 69 no total. Mas com certeza o primeiro, “As Malvadas”, com Alessandra Maestrini, Silvana Domenico, Gotcha, que eu tive total liberdade para criação. Isso me marcou muito, eu tava muito animado, muito feliz. Me sentindo na Broadway. Outro que merece destaque foi o musical “Sete” (foto) que foi uma obra autoral do Charles Möeller e Claudio Botelho, com músicas do Ed Motta, e aonde eu tive total liberdade para trabalhar. Eram maquiagens e cabelos muito diferenciados. Era uma fabula belíssima. Teve “Cinderella”, que a gente teve um mês para montar tudo. Foi um corre, corre miserável, foi um desafio. Teve “Família Adams”, com T4F, que foi uma experiência fantástica de trabalhar. Eu tive condições de trabalhar num lugar similar a Broadway, aonde tudo é muito bem elaborado. As perucas foram feitas com supervisão lá de fora. Foi um desafio maravilhoso!

Em “Elis Regina”, o cabelo da Laia Garin era muito volumoso e tinha que caber numa peruca feita fio a fio, toda em tule, para ficar com cabelo baixinho da Elis. E ela começa com outras duas perucas em cima daquela, foi um bom desafio. Nossa são tantos, foram muitos!

 

 E como é o seu processo de criação? Peças como “Agnaldo Rayol, A Alma do Brasil”, “Avenida Q”, “O Despertar da primavera” e “O que terá acontecido com Baby Jane?” seguem diferentes de arte.
Beto Carramanhos – É mais ou menos assim, a gente recebe o texto, conversa com o diretor, com o figurinista e vai trabalhando de acordo com a necessidade. De acordo com as trocas de roupas, o se pode fazer para ser rápido, ou retratando época, ou de acordo com a intensidade do personagem. O processo vai vindo através dos ensaios.

Em Baby Jane (foto: Leo Ladeira), a personagem da Nicete Bruno vai ficando louca e ela termina com o cabelo solto, então era um cabelo preso, com dois grampos no caso, e ela mesma solta em cena, e fica aquela coisa solta. Foi uma necessidade que a gente vai vendo de acordo com o ensaio. Por exemplo, no caso de um personagem pobre e de repente tem um baile, e não dá tempo de trocar a peruca, a gente coloca uns apliques que são presos com uma piranha, alguma coisa assim, que são presos na peruca base e vira um cabelo de baile.

Um dia, há de ter uma escola que tenha dentre as matérias, que tenha a perucaria, para que as pessoas que queiram trabalhar nessa área saibam como manusear. A gente tem que ter fornecedores que já conhecem o nosso trabalho para enviar exatamente aquilo que a gente pede, formar equipe, que é muito difícil. Em São Paulo você tem uma gama de profissionais muito maiores que no Rio. No Rio é uma dificuldade você encontrar uma equipe que queira fazer teatro de quinta a domingo, para fazer a continuidade dos penteados, as trocas de figurino. No “Gipsy” (foto), por exemplo, a Adriana Garamboni tinha uma frase para trocar tudo, peruca, figurino, e era uma roupa em cima da outra, que ela fazia uma cena de strip tease, então essa cena teve que ser ensaiada como uma cena mesmo, essa troca de roupa. Só essa cena foi em ensaiada em um dia. O teatro é um das formas mais claras do trabalho de equipe, aonde tudo é feito em equipe. Um depende do outro.

Você estreou no teatro ano passado ao lado de Dáda Coelho, numa peça que se passa num salão de beleza, como foi encarar esse novo desafio?
Beto Carramanhos – Eu estreei na adolescência, num grupo de teatro amador, depois fiz muita peça infantil, e depois a vida foi me levando, ser ator no Brasil é muito difícil, e ai fui sendo levado a outros segmentos como cabelo e maquiagem, e consequentemente, o teatro, que sempre esteve presente na minha vida.

Quando eu resolvi voltar aos palcos, eu fiz com o Charles, a convite dele uma série no Multishow há dois anos, chamada “Acredita na peruca”, onde eu fazia um cabeleireiro drag queen, que eu morro de saudades. E televisão é diferente, você precisa saber o texto de um dia para o outro para gravar. Nossa como eu aprendi! Foi maravilhoso! Logo depois eu fiz uma participação numa série policial no GNT, chamada Romance Policial, e foram surgindo outros personagens.

A peça “Corta” é uma ideia minha, de muito tempo atrás, quando eu assisti o Rodolfo Botino numa peça chamada Risoto, aonde ele contava histórias e ao mesmo tempo cozinha um risoto, e servia para plateia, ai eu falei, “Um dia ainda vou fazer isso com cabelo”. E ai foi indo, indo, e quando eu vi a coisa já tinha tomado um rumo e tem sido um grande aprendizado. Ao mesmo tempo em que eu atuo, eu corto o cabelo de alguém da plateia no palco. Isso foi uma coisa que só na pratica, nega, por que é difícil, viu. Tá sendo uma nova experiência incrível.

Ao mesmo tempo veio o programa da Ana Maria, onde eu faço o quadro “Você mais poderosa”, que caiu de paraquedas na minha vida, e eu fui aproveitando a oportunidade e aprendi muito. Já são cinco fazendo e de muito sucesso, aonde eu uso muito do improviso e da emoção. Televisão é outro barato, né, eu sou super agradecido a todas as oportunidades.

 Além do teatro, você também maquia com noivas, como você consegue conciliar as agendas?
Beto Carramanhos – Dá para conciliar, sim. O estúdio que eu tenho, no Leblon, é durante a semana, durante o dia. Em dia de espetáculo, eu atendo a ultima cliente às 17h, para sair às 18h e chegar às 19h no teatro. O programa tem datas especificas, eu trabalho uma vez por mês na Ana Maria Braga. Quando é no Rio, a gente grava durante três dias, quando é fora, são cinco dias, por que tem deslocamento. São datas pré-agendadas, quando eu tô em cartaz, eu gravo segunda, terça e quarta. Fim de semana também tem os casamentos, que são pré-agendados também, então dá para conciliar. Os horários batem perfeitamente.  As pessoas acham que como eu tô fazendo teatro e televisão, que não estou fazendo mais noivas, então eu tenho que postar toda hora nas redes sociais, que faço noiva, sim. Eu não deixei de fazer nada. Eu só faço noiva por que eu gosto muito de fazer, é um prazer enorme. É tão bonito quando ela se vê, se emociona. Eu gosto muito, eu participo do momento muito importante da vida de uma mulher, né. Fico guardado na lembrança dela para sempre.

Alê Shcolnik
Alê Shcolnikhttps://www.rotacult.com.br
Editora de conteúdo e fundadora do site, jornalista, publicitária, fotografa e crítica de cinema (membro da ACCRJ - Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro). Amante das Artes, aprendiz na arte de expor a vida como ela é. Cultura e tattoos nunca são demais!

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