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“RÉQUIEM PARA A SRA. J”: UMA ODE À DESESPERANÇA

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Os últimos dias da vida de uma mulher. Esta é a linha condutora do longa sérvio Réquiem para a Sra. J,  de Bojan Vuletic. A trama segue os passos de Jelena (Mirjana Karanovic), que, após a morte do marido, sente-se solitária e exausta apesar de dividir a casa com suas duas filhas e sua sogra. Assim, em meio à depressão, ela decide que cometerá suicídio no fim de semana seguinte, mas, antes disso, percebe que tem tarefas a serem cumpridas: pegar de volta uma poltrona que foi emprestada a um vizinho, encerrar sua apólice de seguro de vida e arranjar um pedreiro para colocar uma fotografia em sua lápide.

De começo, é importante ressaltar que a principal virtude do filme é o tom comicamente obscuro, que beira o absurdo. Esta nuance é perceptível enquanto Jelena tenta finalizar seus afazeres, sendo obrigada a lidar com a enfadonha burocracia sérvia, herdada do antigo regime comunista da Iugoslávia, o que transforma ações simples como ir a um consultório médico, ao banco ou ao escritório do antigo emprego se transformem em dias de longas esperas e entraves legais, em uma dinâmica bem kafkiana.

Desta forma, afastando-se do enredo e das personagens, o filme pode ser encarado como algo além da história de uma viúva deprimida que tenta organizar sua vida antes de se suicidar. Réquiem para a Sra. J se mostra um filme “state-of-a-nation”, ou seja, uma produção que se utiliza de metáforas e tramas específicas para retratar o estado de espírito de uma população — no caso, a Sérvia — que, em meio a uma transição política e social, ainda tenta se curar das feridas causadas pela difícil separação da não mais existente Iugoslávia. Assim, Jelena acaba sendo uma representação de todo um país.

E toda esta atmosfera pesada e depressiva é destacada pelos aspectos técnicos do longa — apesar do obviamente modesto orçamento —, em especial a direção de Vuletic, simétrica e precisa, e a cinematografia de Jelena Stankovic, que faz uso de marrons sem alegria que elevam a aura de tristeza e desesperança — esta última sendo a principal emoção tratada pela produção. Sendo assim, Réquiem para a Sra. J é uma das pequenas pérolas que conseguiram chegar às vitrines do Festival de Berlim.

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