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“EM 97 ERA ASSIM”: UM CLIPPING DEBOCHADO E SAUDOSISTA

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Princesa Diana. Ovelha Dolly. Titanic. O que estes elementos têm em comum? Todos eles estavam em voga no ano de 1997 e ajudam a compor o universo de Em 97 Era Assim, filme roteirizado por Leo Garcia e dirigido por Zeca Brito, que narra os acontecimentos triviais e marcantes da adolescência de Renato, Moreira, Alemão e Pilha, quatro amigos de 15 anos, moradores de Porto Alegre, que decidem juntar dinheiro para contratar uma prostituta a fim de perderem a virgindade enquanto têm de lidar com os outros eventos que permeiam essa fase da vida de qualquer pessoa.

Justamente por causa desta trama prosaica, uma das principais características da produção é a simplicidade com altas doses de saudosismo — fica claro que o criador é uma pessoa que passou pela puberdade/adolescência no fim nos anos 90 e relembra as histórias daquela época com uma bem-humorada saudade. E se o apelo à memória afetiva não for suficiente para cativar o público, o tom de comédia debochada certamente o fará, pois, sabendo que a juventude — e tudo o que o termo evoca — já é recorrentemente explorado no cinema, Brito opta por trazer ao seu trabalho um tom de ironia que poderia ser utilizado em uma conversa com os amigos sobre os velhos tempos na mesa de um bar.

Assim, o longa mantém um ritmo ágil ao evitar subtramas — o que, geralmente, é um risco — e se focar na história principal — a ânsia em perder a virgindade —, a qual é permeada por outros dramas da adolescência como a timidez em lidar com o sexo oposto, a inconsequência, o equilíbrio entra a vida social e a vida escolar, ou seja, o roteiro monta um clipping dos aspectos da adolescência da classe média para costurar uma narrativa leve, despretensiosa e engraçada.

E parte disso se deve ao elenco, o qual ao longo de uma hora e meia carrega a trama com naturalidade; mesmo que as personagens sejam interpretadas, obviamente, por jovens da segunda década do século XXI, a imersão no dia-a-dia do fim do milênio passado não foi um problema; os diálogos e o estilo de vida — sem toda a conectividade de hoje, obrigando o quarteto a recorrer a revistas pornográficas em vez de vídeos de fácil acesso, por exemplo — são muito bem representados — de forma até bem apaixonada, diga-se de passagem.

Aliás, os elementos utilizados para a reconstituição de época são pontos que dão um charme a mais à trama — desde o celular “tijolão” com antena aos programas de televisão —, e, neste aspecto, a trilha sonora é um dos pontos altos do filme, que é embalada por clássicos daquela época, como Raimundos e É O Tchan, além de Supergrass e Acústicos e Valvulados — a produção se mostra bastante carinhosa ao selecionar estes elementos, que funcionam muito mais como um afago na memória do público do que propriamente como elementos cênicos/narrativos.

Desta forma, Em 97 Era Assim é um filme que não tem pretensões reflexivas sobre o período de transformações que é a adolescência, como As Melhores Coisas do Mundo, de Laís Bodansky, nem cai no besteirol absoluto a la American Pie, mas cumpre a missão que se propõe a realizar: promover um entretenimento divertido e saudosista — o que rendeu alguns prêmios, entre nacionais e internacionais. Assim, em meio a esta onda pop atual, na qual a iconografia noventista está na moda novamente, o filme tem muitas chances de encontrar seu público e ser bem-sucedido.

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