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Renato Martins fala sobre o documentário Relatos no Front

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Segurança pública, violência urbana, constantes e repetitivos problemas sociais são alguns dos assuntos abordados em  Relatos do Front – Fragmentos de uma tragédia brasileira é um longa-metragem documental sobre segurança pública no Brasil, focando especificamente na cidade do Rio de Janeiro. O documentário foi selecionado para a mostra Première Brasil: Longas Documentais da 20ª edição do Festival do Rio, também foi exibido na 42ª Mostra Internacional de Cinema de SP.

 O documentário permite que todas as vozes sejam ouvidas, sendo de certa forma imparcial na questão da violência no RJ. O que te levou a seguir por essa linha narrativa?
Renato Martins – Queríamos fazer um documentário que desse voz para as pessoas que normalmente não tem voz. São as manchetes dos jornais, mas não são ouvidas, suas histórias de vida não são contadas com frequência. Eu e o Sergio Barata, que é co-idealizador da ideia comigo, sempre conversamos muito sobre esses bastidores, sobre a notícias que está por trás dos fatos. Por isso fomos ouvir a Polícia, o ex-criminoso e as mães que são as pessoas que vivem ou viveram esse front de batalha diariamente, era fundamental para se debruçar com um outro ponto de vista sobre o problema da segurança pública em no Rio de Janeiro e no Brasil. Quando humanizamos essas pessoas, trazemos a imparcialidade que queríamos no filme. Elas percebem que o outro não é seu inimigo, e através dos relatos e histórias de vida deles, o público percebe que na verdade todos são vítimas.

A politica da segurança pública é abordada com urgência em Relatos do Front, como a linguagem documental pode ajudar em possíveis melhorias?
Renato Martins – Quando começamos o filme em 2015, nosso intuito não era abordar a segurança pública, e sim as histórias de vidas dessa pessoas. Histórias de superação e recomeço, histórias que nos fazem parar para pensar nas atitudes cotidianas que todos nós tomamos sem refletir sobre as consequências delas. Queríamos dar vida a histórias pouco conhecidas, dos nossos vizinhos, familiares distantes ou prestadores de serviço que muitas das vezes não paramos para escutar, pois a vida está muito corrida. Quando começamos as pesquisas para preparação do roteiro, percebemos que um outro olhar importante era o estatístico, dos dados alarmantes que se gasta com segurança pública e sem melhorias concretas para a população. Nos deparamos também com as imagens feitas pelo cinegrafista Jadson Marques, dentro do front, e nesse momento o filme ganha essa camada de estatísticas numéricas e imagens reais. Que permeamos com imagens de celular ou câmera de segurança que também apareceram durante nossas pesquisas. Acho que o documentário tem essa função social de mostrar certas realidades que ajudam a quebrar paradigmas, quebrar nossos pré conceitos sobre determinada pessoa ou determinado assunto. No documentário temos tempo para refletir, pensar e se colocar no lugar do outro. E assim conseguimos conhecer melhor o problema dos nossos vizinhos, que de uma forma ou de outra, acabam sendo nossos problemas.

O filme questiona o alto custo financeiro dessas mudanças ao mesmo tempo em que procura revela-la. Na sua opinião, Como o brasileiro como cidadão pode ajudar?
Renato Martins –  O que podemos constatar enquanto cariocas, e por que não brasileiro, é que a política de segurança pública que temos a 30 anos está gastando muito dinheiro público e não está surtindo efeito concreto para a população. Os grandes traficantes cariocas estão presos, mas o tráfico e a violência urbana só aumentaram. Tentaram reduzir a oferta das drogas combatendo a entrada delas na cidade e reprimindo o varejo nas favelas, a violência só aumentou e o número de mortos também. As drogas continuam sendo vendidas e usadas igualmente em todas as partes da cidade. Para o cidadão carioca ajudar ela precisa primeiro conhecer o problema que estamos inseridos, e acho que essa foi nossa missão nesse filme, buscar compreender o problema pelo ponto de vista de vários lados. E constatamos que estamos doentes, uma vez você sabe que está doente, fica mais fácil de da doença, que no nosso caso acho que o remédio é ouvir mais do que falar, pois quando falamos ou berramos, deixamos de escutar o outro. E quando se escuta, temos a oportunidade de aprender com os erros e pensar em propostas novas, em juntar ao invés de separar. Em educar ao invés de prender e matar.

O documentário foi selecionado para o festival Docs Barcelona 2018, como foi a receptividade do público?
Renato Martins – Fomos selecionados para um laboratório internacional realizado dentro do Docs Barcelona, chamado Latim Pitch. Onde 6 projetos do mundo todo são escolhidos para desenvolver o roteiro e o projeto comercial do filme, além de fazer uma apresentação pública do que se trata o filme. Nesse festival conseguimos parcerias internacionais importantíssimas para o filme, e a receptividade da maioria do público foi a mesma que estamos tendo agora nas exibições, ficaram impactadas em saber como é a realidade do Rio de Janeiro atrás do cartão postal da cidade.

O documentário é um projeto em coprodução da Globo News, Globo Filmes e o Canal Brasil, qual é a importância deles para carreira do filme?
Renato Martins – A importância deles é imensa pois acreditaram no projeto quando ele ainda era um pedaço de papel escrito e uma ideia na cabeça. O Canal Brasil já é um parceiro de outros projetos, a Globo News e a Globo Filmes são novos parceiros que pretendo manter um relacionamento de trabalho por muitos anos.

O filme nasce do processo de pesquisa do meu primeiro longa metragem de ficção que se chama Caldo de Cana, projeto que já participou de 2 laboratórios internacionais para desenvolvimento de roteiro, foi contemplado por um fundo de investimento espanhol, e mais recentemente participou do programa Films From Rio, que fomenta projetos e produtores cariocas no mercado internacional. Mas mesmo com todos esses parceiros engajados ao projeto, sigo sem conseguir captar para produzir o filme. Por isso decidi fazer o Relatos do Front, que é meu terceiro longa documental, pois sabia que precisaria captar um valor bem inferior ao que se necessita para filmar uma ficção. Retomando a sua pergunta, a importância da Globo News, Globo Filme e Canal Brasil é fundamental, pois sem eles não conseguiria ter feito esse filme nascer.

Alê Shcolnik
Alê Shcolnikhttps://www.rotacult.com.br
Editora de conteúdo e fundadora do site, jornalista, publicitária, fotografa e crítica de cinema (membro da ACCRJ - Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro). Amante das Artes, aprendiz na arte de expor a vida como ela é. Cultura e tattoos nunca são demais!

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