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Poderia me perdoar? : Melissa McCarthy traz uma visão cética, cínica e antissocial em relação ao mundo

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Nos anos 90, Lee Israel (Melissa McCarthy) é um escritora que se vê estagnada na carreira, com grandes dificuldades financeiras e nenhuma perspectiva de mudança. Assim, ela tem uma ideia inusitada para conseguir dinheiro: forjar cartas de celebridades do mundo literárias para vendê-las posteriormente. O plano se mostra surpreendentemente prolífico, resultando em quase 500 falsificações, as quais fizeram muito sucesso e – de uma maneira um tanto quanto torta – provaram – ou reafirmaram – o talento de Lee.

Apesar de se tratar de uma cinebiografia, o principal acerto do roteiro é não se prender estritamente aos aspectos factuais da história, ou seja, a trama vai muito além de uma mulher falsificando cartas, este é apenas o conflito do filme, o qual tem em seu âmago a amizade entre Lee e Jack Hock (Richard E. Grant), cuja personalidade é o antônimo da escritora. Isso faz com que o longa se afaste do viés documental, o que injeta mais energia ao desenvolvimento do enredo, pois, com o adiamento do clímax, este ganha mais peso.

Com isso, a dinâmica entre as duas personagens é o que capta a atenção do público, qual esperava apenas ver a aplicação de um grande golpe, uma vez que, apesar das divergências, ambos compartilham uma visão cética, cínica e antissocial em relação ao mundo e à humanidade, resultando em um bate-e-rebate instigante que nunca se torna maçante. E muito disso se deve às interpretações dos atores, que se mostram totalmente comprometidos com suas personagens.

Por isso, o espectador acostumado a ver McCarthy na comédia pode se surpreender. Conhecida por ter um tipo de humor muito próprio e reconhecível – que já lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Atriz Coadjuvante, por Bridemaids -, aqui, a atriz mostra veracidade como uma mulher amargurada com a vida e nas cenas dramáticas – mesmo nos momentos mais cômicos, ela se mostra livre dos vícios de sua persona real. E Grant cria muitas camadas para Jack, um homem que só mostra o que deseja mostrar.

Porém, apesar de todos os pontos positivos, o roteiro apresenta alguns deslizes que devem ser considerados. O principal é a obviedade de alguns clichês que poderiam – e deveriam – ser evitados, como, por exemplo, a figura do síndico cobrando o aluguel atrasado para mostrar que a situação financeira da personagem vai mal. Outro problema é a exposição de emoções que já estavam visualmente claras, além da verbalização de características pessoais das personagens, o confere certa artificialidade às cenas.

Por outro lado, o roteiro, unido à direção de Marielle Heller (“The Diary of a Teenage Girl”), constrói muito bem as noções de ascensão e declínio características de cinebiografias, bem como a redenção – afinal, apesar aquelas cartas, em teoria, terem sido escritas por celebridades, o sucesso delas se deve ao conteúdo, totalmente criado por Lee, que se mostrou uma boa escritora, não só para os outros, mas para si mesma também, pois as palavras escritas ali eram dela.

Assim, Poderia Me Perdoar? é um filme que, embora peque na execução de alguns aspectos, possui um elenco dedicado e competente que ajuda a elevar e desenvolver muito bem os seus dois plots principais – a improvável amizade entre duas personalidades antagônicas, unidas apenas pela visão cínica em relação ao mundo, e a história de uma escritora que só conseguir reafirmar o próprio talento ao forjar cartas escritas por outras pessoas, ou seja, uma pessoa que precisar falar por meio das bocas de outras pessoas para encontrar a própria voz.

 

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