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Não mexa com ela aborda o assédio à mulher no ambiente de trabalho

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Orna (Liron Ben-Shlush) é uma mulher de classe média, mãe de três filhos que está passando por um momento financeiro difícil, uma vez que o recém-inaugurado restaurante de seu marido, Ofer (Oshri Cohen), ainda não está tendo lucro. Assim, ela resolve buscar um emprego para equilibrar as contas da casa, conseguindo uma vaga em uma luxuosa imobiliária comandada por Benny (Menashe Noy). No entanto, assim que inicia seu trabalho no escritório, ela começa a ser alvo do assédio de seu chefe.

Este é um tema pesado e delicado que precisa ser abordado da forma correta. Felizmente, a diretora Michal Aviad consegue acertar o tom, mesmo nos momentos mais difíceis, optando por uma abordagem realista, que foge do maniqueísmo. Com isso, os avanços de Benny acontecem desde o início, mas de maneira gradual, começando por comentários inconvenientes sobre a aparência da funcionária até chegar ao ápice do abuso no terceiro ato.

Nesse meio tempo entre um ponto e outro o enredo mostra como funciona a dinâmica e os jogos de poder de um assediador na posição de Benny. Primeiro, ele assedia Orna, depois, pede desculpas, dizendo que “cortejos são naturais” e que este tipo de coisa é “incontrolável”; em seguida, ele avança novamente, mas faz um eleogio público ao profissionalismo dela; mais tarde, ele tenta beijá-la e, diante da recusa, ele a promove. O interessante é que apenas o público tem noção total do comportamento de Benny, pois há olhares e expressões das quais Orna não está ciente, o que aumenta a tensão conforme a trama se desenrola.

Desta forma, o espectador ainda tem a percepção da ambiguidade deste tipo de situação, uma vez que, para os outros, Benny é o chefe que todos pedem a Deus, entretanto, quando se trata de Orna, a cada recusa da mulher, ele se torna mais agressivo – pois ele resolve, inclusive, ajudar financeiramente o marido dela a fim de que a dependência financeira seja maior, afinal, ele é um dos empresários mais influentes de Israel e pode, facilmente, fechar todas as portas do mercado de trabalho para Orna.

E esta dualidade não está presente apenas no roteiro, mas também no design de produção. No frio e luxuoso escritório, Orna deve se vestir e se comportar de maneira elegante e irrepreensível – afinal, ela lida com clientes vip a todo momento -, mesmo com as consequências emocionais e psicológicas do assédio que vem sofrendo. Já em casa, ela pode respirar – um pouco, já que sua família não sabe o que está acontecendo -, vestir uma roupa despojada e confortável e controlar a desordem rotineira de uma casa de classe média.

Além disso, tratando-se de um “filme de personagem”, a câmera acompanha os passos da protagonista a todo momento, muitas vezes focada em seu rosto, fazendo com que o espectador não apenas a observe, mas viva a história do ponto de vista dela. E Liron Ben-Shlush foi a escolha perfeita para o papel. A atriz consegue passar muito realismo enquanto transita com facilidade entre uma série de emoções em uma única cena – há a força, a impotência, a revolta, o medo de não acreditarem nela, a culpa -, todas impecavelmente representadas.

Esta escolha de transformar a protagonista em um ponto magnético da produção, apesar de arriscada, tem um subtexto muito interessante. Ao longo de toda a História, as personagens femininas têm ocupado o lugar de coadjuvantes, deixando o protagonismo heroico para os homens. Aqui, os papeis de invertem: é Orna que tem o grande arco dramático e Ofer está em segundo plano como um bom marido compreensivo que, ao descobrir o que vem acontecendo com a esposa, não sabe como lidar. Perde-se um pouco a possibilidade de expandir a temática, mas vale a pena por colocar o público no lugar da vítima.

Assim, Não Mexa Com Ela – um título bem menos sutil e abrangente do que o original “Working Woman” – é um filme que discute um tema atual, necessário e difícil – esta última categoria se aplica a diversos aspectos -, fazendo-o de forma realista e sem eufemismos, causando no público sensações como tensão, indignação, asco, ódio, tristeza e choque. Trata-se de um produção não muito fácil de assistir, mas em um mundo em que as pessoas negam que este tipo de situação aconteça, culpam a vítima e dizem que qualquer tipo de militância é “mimimi”, talvez, colocando o espectador no lugar de Orna, algumas mentes resolvam se abrir – nem que seja um pouco – para entender o óbvio: o assédio acontece todos os dias, em todos os lugares, a culpa não é da vítima e ninguém merece passar por isso.

 

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