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“Três Maneiras de Tocar no Assunto”: A temática do desamparo das populações LGBTQ, historicamente isoladas e perseguidas, ganha voz com a atuação de Leonardo Netto

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Em cartaz no Teatro Poeirinha, “Três Maneiras de Tocar no Assunto” se apresenta como um texto reflexivo analítico, em tom de denúncia e de expurgo, que se mostra mais do que necessário nos dias atuais, no Brasil e no mundo.

A temática do desamparo das populações LGBTQ, historicamente isoladas e perseguidas, ganha voz com a atuação de Leonardo Netto. Uma parábola explicativa e crítica é traçada, desde as pequenas torturas físicas e psicológicas começadas na infância de pessoas sexualmente diversas, passando pela repressão policial e chegando até a um acharcamento institucional a nível nacional, com governos e política que optam flagrantemente por minar ainda mais a existência e a resistência desses grupos na sociedade.

A covardia é um tema abordado: o grupo que assiste passivamente ao flagelo, à humilhação, ao linchamento e à desmoralização dessas pessoas que amam com a mesma intensidade, do mesmo modo que todos, só, por uma razão que não se conhece e que parece não se controlar, amam pessoas do mesmo sexo, ou, apresentam-se em novas estruturas de comportamento.

O bullying na escola é apontado como elemento desencadeador de um sentimento que em muitos agressores permanece pela vida adulta e acaba por se perpetuar nos seios de famílias, que acabam nutrindo, consciente ou inconscientemente, uma noção de que é certo hostilizar certos tipos de pessoa, que acabam perdendo até mesmo o status de gente.

O suicídio de jovens, sequelas psicológicas e até mesmo um sentimento de revolta pelos mal-tratos sofridos, explicando até mesmo episódios de violência extrema, são colocados como consequências de uma sociedade que teima em ser cruel com o diferente e se recusa a abraçar a humanidade que há nos variados modos de vida possíveis. Chegamos até mesmo a nos perguntar se para as vítimas de tantos abusos, abusos por uma vida inteira, não parece mais difícil manterem-se dignas, com boa índole e cidadãos funcionais, tamanhas são as reais privações de direito sofridas, se pensarmos bem. Mas a maioria consegue.

A questão da legitimação das perseguições por certos grupos dentro de denominações religiosas, empresas, Congresso Nacional, é também importante e nos faz indagar acerca da representatividade nesses espaços e, que tipo de mentalidade estamos criando para o futuro. Estamos mais próximos de reproduzir o ódio do que de encorajar o afeto?

A direção de Fabiano de Freitas é segura e, junto ao ator, consegue criar o ambiente para que se fale sobre coisa séria. Coisa séria que quase não se fala, se esconde. A personagem que fala cita Stonewall e se coloca em um cenário internacional, mas poderia ser aqui.

Quem for ao teatro assistir vai ter a oportunidade, um momento, para ouvir, de maneiras e em instâncias diferentes, como é que o homem mata o homem há tanto tempo, no que parecem ser ciclos, ciclos repressão à provavelmente mais perseguido de todas as identidades humanas.

Foto: Dalton Valério

Felipe Mury
Felipe Mury
Felipe Mury é ator formado pela Casa de Artes de Laranjeiras e bacharel em Direito pela UFRJ. Amante das Artes Cênicas, especializou seu olhar em relação ao Teatro, sendo uma ficcionado por Shakespeare e Brecht.

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