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Blackberry é mais um filme sobre bastidores empresariais

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Blackberry, indicado ao último Urso de Ouro no Festival de Berlim e estreia desta semana nos semanas, chega em um 2023 repleto de títulos que mostram a criação ou ascensão de produtos na cultura Pop estadunidense e, por consequência, no mundo. Começamos pela dobradinha Air e Tetris, passando por Flamin’ Hot, até chegar na maior bilheteria mundial do ano, Barbie. A chegada de todas essas narrativas às telas, de um tênis que consolidou Michael Jordan como uma marca até a boneca mais famosa da História, além de um jogo de videogame e um sabor de salgadinhos, responde ao desejo do consumidor em continuar alimentando a própria nostalgia. Que cada um desses títulos tenha usado essa ferramenta em particular e suas texturas cinematográficas de modos distintos, é o que configura a maturidade com o qual se trata um tema que captura a todos.

Matt Johnson, que sempre protagoniza seus projetos, tem aqui uma espécie de resposta a A Rede Social, filme que colocou o olhar nerd não apenas no centro da narrativa, como também em posição de poder no mundo através do que é de seu domínio. Ao contrário do já clássico filme de David Fincher, Blackberry se importa quase que exclusivamente com o caráter externo dos eventos, deixando seus personagens imersos nas relações humanas estabelecidas entre eles. Isso é traduzido como um laço menor que é desamarrado entre cada um em cena e o que verdadeiramente os constitui, o que os define é a forma como eles trocam entre si, deixando em segundo plano seus olhares de foro íntimo.

BlackberryIsso é um decréscimo da produção, até que percebemos que Blackberry é mais um filme sobre bastidores empresariais, daqueles títulos que fizeram sucesso nos anos 80 sobre negociações de escritório, e que o recorte das relações do nosso tempo são mais um elemento de composição. Com isso, seus três protagonistas (os dois criadores do primeiro smartphone do mundo e o executivo que o tornaria popular) estão em cena para desenvolver as molas que moverão o jogo, e nas entrelinhas relacionar-se entre si. Quando o filme escapa de seu foco principal, percebemos o tanto de narrativa que é menosprezado em nome de uma abordagem mais tátil de um evento – e menos emocional.

Johnson escolhe para emoldurar a história que está contando uma acertada incursão pelo olhar documental, quase atua como uma câmera testemunha acompanhasse seus personagens em ação. Blackberry rastreia a fricção que se compreende o granulado do plano e o quão tais momentos são críveis, e da fagulha que nasce dessa união, temos o ritmo alucinante que o corte de Curt Lobb impregna no que vemos. Se abre nesse campo de uma maneira geral um apreço no detalhe revelado pelo silêncio, que flagra seus protagonistas em epifanias do olhar; é um trio de tipos muito diferentes entre si, mas que congregam os valores de relevo essenciais para que o filme/história ganhe dramaticidade.

E a cada novo avanço por suas entranhas, mais um detalhe é capturado pela narrativa. “O ápice do individualismo ao alcance de sua mão”, era o que diria um dos prováveis slogans do aparelho celular revolucionário; aos poucos, essa ode a um certo recorte da individualidade tóxica estadunidense vai se revelando ainda mais espraiada do que estaria a postos. É uma reflexão que sai também de um caráter mais sisudo para, enfim, observar os alicerces do trabalho, das relações corporativas e do tanto que possamos perder quando não cuidamos de nossas amizades. É quando o filme começa a mostrar o que é muito claro, mas nas entrelinhas: não foi qualquer tipo de concorrência a minar o projeto Blackberry, mas cada um dos envolvidos em suas decisões unilaterais.

No caminho para alcançar a amplificação de sua motivação, Blackberry precisa do olhar do espectador para seus aspectos humanos, e o elenco aqui revela tanto de suas qualidades. Seu elenco é mais talentoso do que estrelado, e a dupla formada por Johnson e Jay Baruchel encontram o caminho adequado para mostrar ascensão e queda de uma amizade. Paralelo a humanidade que é empregada por ambos, Glenn Howerton prova a cada cena porque uma indicação ao Oscar seria essencial para recompensar seus esforços. É um espaço que poderia ser habitado pelo excesso de naturalismo, mas que é sutilmente carregado de uma veia histriônica que revela o melhor e o pior de um grupo de pessoas norteada pela sombra da solidão.

*Filme visto durante o Festival do Rio

 

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