- Publicidade -

O Sequestro do Voo 375 tem contexto social em narrativa enxuta

Publicado em:

Inspirado em fatos reais!

Desde a Retomada do Cinema, raros foram os anos (se é que houve algum) que o cinema brasileiro não nos surpreendeu de alguma forma. O surgimento de novos autores, o lançamento de clássicos absolutos, a consagração de atores e atrizes, novas produtoras que revelaram novas vozes e olhares, não existe um ano nos últimos 26, que algo não tenha sido, certamente, singular. Em 2023, não conseguimos ainda recuperar os números que fazíamos pré-pandemia, em compensação o lançamento de títulos como Retratos Fantasmas, Nosso Sonho, Mato Seco em Chamas, Luz nos Trópicos, Tia Virgínia, Seus Ossos e Seus Olhos, Incompatível com a Vida e tantos outros tornaram explícita nossa versatilidade, mais uma vez. A cereja do bolo talvez seja mesmo O Sequestro do Voo 375.

Chegando aos cinemas no último mês do ano, o filme mostra o que sempre foi claro. Com tantas histórias extraordinárias que aconteceram (e acontecem) diariamente no país, porque nosso cinema não investe na reprodução dessa realidade, assim como em qualquer outro país? Não estou falando de biografias pois nesse gênero estamos com representação recorde, mas na busca cotidiana pela inspiração, venha das páginas policiais ou de absurdos que ganharam a mídia. O Sequestro do Voo 375 é, surpreendentemente, um dos primeiros casos, mas que poderia estar no segundo pela força do que externalizava seu personagem central, um homem cuja sede de justiça desmedida provocou uma espécie de mini catástrofe.

O Sequestro do Voo 375

Além de encontrar nos telejornais um recorte de vida real para emoldurar uma voz apagada dentro de um contexto de caos político e parar para ouvi-la sem tirar o peso dos seus atos, O Sequestro do Voo 375 ainda revela em Marcus Baldini nossa esperança no thriller. Baldini tem uma pá de sucessos nas costas (os mais emblemáticos, Bruna Surfistinha e Os Homens são de Marte… e é Pra Lá que eu Vou!), e aqui ele se gabarita para mais um, no que deve ser seu trabalho de direção mais sofisticado desde sua estreia com a biografia protagonizada por Deborah Secco. Esse apuro estético não é esquecido quando precisa realizar seus momentos mais tensos, pelo contrário, eles são potencializados, e resultam na certeza de observar um profissional em dia com seu ofício.

A criação da tensão, também a cargo dos montadores Lucas Gonzaga e Gustavo Vasconcelos, é primordial para que possamos adentrar na construção proposta por Baldini. Como trata-se de uma inspiração real, qualquer busca pelo Wikipedia revela o desenrolar do roteiro. Sabendo disso, a direção nos captura para dentro de um ambiente inquieto, em um crescendo de adrenalina raras vezes vistas no cinema brasileiro recente. Dessa forma, é fácil observar que Baldini se cercou dos melhores profissionais possíveis para realizar o trabalho, e o resultado alcançado subverte qualquer expectativa. O filme não nos desaponta em construção dramática, no seu enlevo emocional e na moldura de seus personagens centrais.

Caso se tratasse de apenas um prodigioso feito técnico, O Sequestro do Voo 375 não deixaria suas marcas no espectador, e isso é o trabalho de um roteiro que compreende sua função dentro de um cinema tão bem acabado no exterior. Ao dar voz ao sequestrador, suas exigências e seu drama pessoal, o trabalho de Lusa Silvestre e Mikael de Albuquerque não retira tintas fortes do personagem, mas encontra em que momento esse homem perdeu a humanidade. Ao escolher ser tão algoz quanto seu nemesis, Nonato dá a Jorge Paz a chance de um trabalho completo – e ele realiza. Com um elenco acima da média, a presença efervescente de Roberta Gualda em cena é importante para nos lembrarmos o quanto seu talento é infinito, e como ela é menosprezada em seu potencial.

Da forma como abri o texto, o cinema brasileiro não tem cansado de nos apresentar momentos emblemáticos nas últimas décadas, que independem do tamanho de sua visibilidade. Sinto que O Sequestro do Voo 375, com toda a consciência emocional e o fato de extrair um comentário político extremamente forte sobre uma época que não é tão retratada assim no cinema, se gabarita para tal. É da união de seus polos de excelência – de comentário social, de entretenimento ousado, de narrativa enxuta, de técnica invejável – que se faz uma produção que busca comunicação. Nos importamos com quem agiu e com quem sofreu a ação, e com isso o campo de análise é mais complexo; não é um trabalho pouco, o espaço onde se chega. Que a Disney consiga entender a necessidade de sua divulgação maciça, que o espectador não se intimide com seu arrojo, e o aceite.

Mais Notícias

Nossas Redes

2,459FansGostar
216SeguidoresSeguir
125InscritosInscrever
3.870 Seguidores
Seguir
- Publicidade -