- Publicidade -

Madame Teia: Dakota Johnson demonstra talento e maturidade ultrapassam os projetos

Publicado em:

Vivemos, depois de décadas, o ocaso dos filmes de super-heróis, baseados em HQs. Durante anos, quem não era adepto do gênero não teve como fugir das oportunidades constantes de diversão, que não fossem ligados a extraterrestres voadores salvando a Terra, já tendo chegado a um lançamento a cada dois meses, massificando as salas de cinema com uma única opção para o entretenimento. Madame Teia chega aos cinemas essa semana em outro momento, inclusive já sendo desacreditado em capacidades que até quatro anos atrás eram impensáveis. Talvez por isso a sessão do filme seja surpreendentemente menos afobada do que vinha sendo a dieta de títulos da mesma seara, ainda que pouco redentora, ao final. Aqui ao menos, há leveza no que concerne às intenções da obra para entender do lugar que pode ser ocupado, nesse mundo que precisa começar a responder onde esse séquito de filmes irá parar daqui para frente.

S. J. Clarkson foi a escolhida para a empreitada em torno de uma personagem pouco conhecida por quem não é absolutamente aficionado por quadrinhos. Cria da televisão, onde dirigiu episódios para as premiadas “Succession”, “Orange is the New Black” e “Dexter”, talvez tenha sido seu trabalho em “Jessica Jones” que tenha despertado nos produtores a intenção de convidá-la. Sabemos que não há muito o que fazer nesses materiais de promoção em massa, constituídos muito mais de vontade de ganhar dinheiro do que de massa encefálica. Por todos os motivos já apresentados até aqui, e após um prólogo que é um desastre sob todos os aspectos, Madame Teia começa então a se desenhar bem mais interessante do que precisaria para alcançar intuitos do passado.

Em outros tempos, um filme como esse seria um sucesso incontestável de bilheteria, independente de suas qualidades ou defeitos. Se observarmos a trajetória desses títulos junto à crítica não existe como entender os motivos que levam, hoje, a esses títulos serem tão destratados. Em defesa aberta por Madame Teia, temos o carro chefe do filme: Dakota Johnson, que já tinha sobrevivido à tríade do horror chamada Cinquenta Tons de Cinza, volta a demonstrar que seu talento e maturidade ultrapassam os projetos, ao injetar personalidade e muita perspicácia a um produto que só pretende entreter. Com garra insuspeita, a jovem atriz clama que olhem para ela em títulos como A Filha Perdida e Um Mergulho no Passado. Seu futuro será, certamente, brilhante aos seus predicados.

Madame Teia

É bom entender que Madame Teia não representa uma retomada ou algo próximo a recuperação a um grupo de filmes que está na UTI. Apenas precisamos apreciar o que está sendo oferecido da forma como foi, com modéstia e restrição. Efeitos especiais decentes, um grupo de profissionais dedicado em cena, e ‘teias’ (eta trocadilho infame…) que conectam outros universos envolvendo personagens igualmente “teiudos” criam mais um jogo onde muitos pontos no universo acabam por convergir. Aqui, no entanto, não se tratam de um grupo de incontáveis realidades multiversos afora, mas uma quebra temporal provocada pelo poder da protagonista de prever o futuro, que permite mover e alterar situações previamente desenvolvidas. Não é a coisa mais inovadora do cinema, mas funciona, caso o espectador entre com boa vontade – e não se comporte desde a saída de casa para a sessão do “pior filme de sua vida”. Acreditem: não é. Nem da vida nem do ano.

Assim como o prólogo foi ressaltado, um ator em particular faz o caminho inverso aqui a Johnson. Tahar Rahim é um profissional memorável, foi descoberto em um dos grandes filmes franceses dos últimos vinte anos (O Profeta) e recentemente vem recebendo merecido espaço no cinema falado em inglês, como em sua emocionante performance em O Mauritano. Não é culpa direta dele ter aceitado ganhar um dinheiro fácil em um veículo de grande circulação como um filme de grande estúdio, muito menos passou por sua aprovação as cenas estapafúrdias que precisa realizar em Madame Teia. Mas a verdade é que, infelizmente, ele dá vida a um dos piores vilões já vistos em títulos da Marvel, suas falas são dignas de pena, sua motivação é risível, enfim, não há o que salvar ali.

Nesse sentido, parecem existir dois filmes dentro de Madame Teia. Um é leve e descompromissado, quase uma aventura adolescente embalada por sucessos de vinte anos atrás como “Toxic”, de Britney Spears, “Bitch”, de Meredith Brooks, e “Dreams” do Cranberries. Aliás, existe uma deliciosa vontade de organizar tudo isso da maneira mais graciosa possível, para abrir espaço para uma geração futura de mudanças. Porém , o outro filme é um exemplo do porquê os filmes de HQs chegaram até esse lugar, com vilões caricatos e despropositados, diálogos ridículos e muito humor involuntário. Isso é inédito? Não, Madame Teia faz parte de um grupo de filmes que estava sendo aplaudido até outro dia independente disso. Infelizmente, está em vias de pagar um preço alto demais pela falta de cuidado com todos os detalhes, e em não manter suas qualidades isoladas, mas em todos os lugares onde se pretende chegar.

Mais Notícias

Nossas Redes

2,459FansGostar
216SeguidoresSeguir
125InscritosInscrever
3.870 Seguidores
Seguir
- Publicidade -