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O Último Animal traz um misto de estereótipos ambulantes e situações pouco críveis

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Já temos um distanciamento de vinte anos entre o lançamento de Cidade de Deus e o hoje, que por inúmeros motivos, se tornou um clássico instantâneo do nosso cinema, e varreu o mundo servindo referências e influências, chegando a motivar o vencedor do Oscar de filme internacional de poucos anos depois, Infância Roubada, da África do Sul. Entre nós mesmo, o impacto cultural talvez tenha sido tão imenso que ninguém ousou se aproximar de sua estrutura narrativa, da imagem que o filme de Fernando Meirelles e Kátia Lund imprimiram. Da mesma forma, O Último Animal ousa entrar no perigoso terreno referencial de uma obra já imortalizada, o resultado é incômodo, para dizer o mínimo.

O Último Animal

O diretor lusitano Leonel Vieira comanda essa co-produção Brasil e Portugal falada em línguas diversas (e não estou citando seus idiomas). Existe uma verdadeira motivação para construir um mosaico policial em torno do jogo do bicho, que é quase uma instituição nacional, mas que não é muito bem transposta para a compreensão de um filme que visivelmente deseja ser exportado. Além disso, O Último Animal estreia no momento certo, onde Vale o Escrito ganha prêmios como minissérie documental olhando para esse universo. Também pelo excesso de material com o qual precisa se preocupar, o filme não se sustenta sozinho ou sendo conectado a qualquer outra obra, cujo benefícios desaparecem na comparação.

O Último Animal tem na estrutura da montagem ágil, nas imagens rarefeitas e no material pseudo documental um apontamento crucial para ser paralelizado com o longa protagonizado por Zé Pequeno e sua turma. Além disso, também temos a narração em off do protagonista envolvido no mundo do crime, mas que luta para que sua ambição por uma vida honesta valha a pena. Porém, tirando as motivações e pretensões, O Último Animal não herdou as qualidades do filme que ousa espelhar. Na verdade, tudo que parecia vibrante esteticamente e elaborado em sua estrutura dramática, aqui não soa de outra maneira que não como uma cópia pálida, mas que deve encontrar seus admiradores entre os espectadores que busquem emoções fáceis.

Existe uma tentativa de criar tensão em cena que, aliás, nunca é estabelecida por completo, também porque Vieira não está em terreno seguro. Ainda que sua carreira seja permeada por títulos policiais, o que temos aqui é uma argamassa que só poderia capturar suas nuances caso um mergulho pela intimidade das questões estivessem dispostas. Ao invés de coragem e autoridade, temos então um misto de estereótipos ambulantes e situações pouco críveis, tendo em vista que seus personagens são apresentados de maneira unidimensional. O resultado é que tais intenções de construir vibração imagética não encontram reverberação em todo o resto.

Não ajuda em nada o elenco aqui ser tão digno do todo. Podemos dizer que dois dos papeis centrais são vividos por Junior Vieira e Duran Fulton Brown. Enquanto o segundo parece estático em qualquer que seja a entonação que seja exigida, em um registro quase lobotomizado, o segundo não consegue fazer a transição de suas fases com um mínimo de credibilidade: ambos são artificiais. Os veteranos Joaquim de Almeida e Marcello Gonçalves realizam suas tarefas de maneira protocolar, como se nada ali precisasse de empenho. O único sopro de carisma do filme atende pelo nome de Gabriela Loran, premiada por seu desempenho, e em crescimento visível de seu trabalho em teledramaturgia para cá, ainda que O Último Animal não forneça a ela um tipo de qualidade.

Sem um desenvolvimento tácito de situações, narrativa ou personagens, o que vemos parecem ser pontos isolados sem conexão que sugira uma continuidade. Em seu lugar, temos um apanhado de informações e cenas que sugerem ideias que nunca são encampadas pela realização. O Último Animal mais parece a primeira ideia para algo, que ainda precisa de tempo e elaboração para alcançar suas metas. Do jeito que está, nada se concretiza de maneira satisfatória, e o filme nunca se mostra como algo crível, são clichês apresentados de qualquer maneira, onde a mínima chance de parecer menos quadrado é igualmente desperdiçada.

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