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EO, filme de Jerzy Skolimovski, tenta igualar animais à humanos

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Por Francisco Carbone – Premiado em Cannes há um ano, vencedor de inúmeros prêmios da crítica americana, sendo exibido em festivais no Brasil desde outubro, indicado ao Oscar em fevereiro, só agora EO chega ao Brasil. Aliás, embora caminhe por uma área de um exotismo trivial que tem encantado os cinemas, o que é visto em EO é particular mesmo dentro dessa seara. Além disso, não é todo dia que um filme dirigido por um octogenário polonês é lançado com o ‘pedigree’ que este filme alcançou. Dito isso tudo, o que dizer que ainda não ouvi por aí nos últimos 12 meses?

EOEO é um daqueles filmes que aparecem de tempos em tempos em muitos aspectos. Dirigido por Jerzy Skolimovski, que acaba de completar 85 anos, o cineasta vem ampliando os hiatos entre seus filmes, já tendo ficado quase 20 anos para entregar uma obra nova. De muitas formas, EO me leva até Essential Killing, seu penúltimo filme antes desse, de 2010, onde um homem tentava sobreviver ferido em uma floresta gelada, durante mais de uma hora de produção, era apenas o que tínhamos acesso. EO (personagem-título) é como uma versão daquele homem em quatro patas, um jumento que vagueia pela região rural da Polônia e da Itália atrás de sua melhor amiga, uma artista do circo de onde ele foi expurgado.

Com clara e assumida inspiração do clássico de Robert Bresson, A Grande Testemunha, EO caminha pelas próprias pernas porque Skolimovski parece querer levar a psicologia com que trata essa história sobre um pária social em busca de afeto para dentro da lente, propriamente. Enquanto as ambições de Bresson eram filosóficas e seus personagens tinham comunicação mais direta com o que o espectador assistia, aqui o polonês resgata a melancolia, o medo, o desespero, a solidão, tudo isso para que a luz utilizada seja modulada pelos sentimentos que o burrico delimita, e que afloram de seus olhos tão expressivos.

O longa, certamente, vai além de filmar uma jornada de auto aceitação, ou da transformação daquele animal em alguém mais sábio, ou em encontrar a porção que lhe cabe nessa terra. O que está em jogo é a tentativa de traduzir em imagens o que carrega de informações quem não consegue fornecê-las. Por ora fazendo as vezes de seu olhar, em outras tantas testemunha do que ele mesmo absorve à sua volta, EO é uma peça de transmutação de linguagem que tenta capturar a angústia de um personagem através do horror que o assola cada vez mais.

Esteticamente extasiante, EO se vale do que transmite sua narrativa para configurar seus planos, fazendo-os tão desoladores quanto podem ser uma paisagem sem esperanças, ou tão amedrontadores quanto o são nossos mais cruéis pesadelos. Indo de sentimento em sentimento, nosso protagonista conhece novos seres (humanos ou não), faz novos amigos e presencia pequenas e grandes tragédias, com a esperança de rever Kasandra. Nesse caminho, a direção preenche os planos com os mais desconcertantes momentos, desde os vermelhos que indicam o terror até a limpeza fria dos recortes solitários de seu caminhar.

A intenção do projeto é nos colocar na pele do animal e não nos diferenciar do mesmo, além de fazê-lo envolver-se em conflitos tão mundanos quanto perigosos, e resta a ele sempre o tratamento dado a qualquer outro marginalizado pela sociedade. Antes de observar em EO um relato óbvio sobre maus tratos a animais ou mais uma exploração sobre a miséria humana impregnada de misantropia, vejo que Skolimovski queria igualar os seres para dizer que nossa preocupação também deve contemplá-los em igual conscientização. Por isso transformar o mais emocionante dos jumentos num indivíduo errante em busca de uma nova chance, como qualquer um de nós.

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