“Merlin e Arthur: um sonho de liberdade” transforma lenda celta em conto multisensorial

Seja bem-vindo a poesia de Camelot, onde o amor de Lady Guinevere, Lancelot e Arthur são apenas pano de fundo para o misticismo da mente de Merlin!

A tradicional lenda celta de Merlin e Rei Arthur traz referências às construções de personagens de Shakespeare, a começar pelo vilões da história e sua mocinha. Tudo soa muito caricato ao autor. Mesmo com um elenco afinado e atuações favoráveis, o espetáculo não voa, falta tempero à obra e acidez ao olhar de Arthur. “Merlin e Arthur: um sonho de liberdade” mistura muitas linguagens diferentes: poesia, literatura, teatro e música, deixando tudo pairando pelo ar.

Com um tom sombrio, a peça que revisita o conto do Rei Arthur, traz um tom lúdico ao mesmo tempo que intergaláctico em sua estética. A obra que traz músicas de Raul Seixas, às transformam em canções líricas, numa espécie de Ópera de Raul, o que infelizmente, não casa com a estrutura oferecida do enredo, muito menos com a música dele, que desde sempre transcendem a história. O próprio gênero, que Raul criou sua obra: o Rock, oferece mais essência à história.

Vale destacar o trabalho minucioso do figurino feito por João Pimenta, o design de produção, que te transporta para um ambiente inóspito da guerra religiosa, em um tom cinzento maquiavélico, tomado inclusive pelas palavras de Merlin, interpretada por Vera Holtz (assustadoramente transgredida em projeções). Aliás, as projeções tomam conta do enredo dando a sensação do ambiente intergaláctico, onde passado, futuro e presente se confrontam.