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UMA JUÍZA SEM JUÍZO POR FILIPPO PITANGA

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Alguns diriam que o grande Prêmio Cesar de Cinema (equivalente ao Oscar Francês) teria perdido o juízo também. Totalmente contracorrente, premiou em 2014 como melhor filme a paródia irônica da própria vida do também eleito melhor ator (além de ter dirigido e roteirizado), Guillaume Gallienne, por “Eu Mamãe e os garotos”, e como melhor atriz Sandrine Kiberlain pela protagonista do filme que iniciou esta crítica. Os mais empertigados e existencialistas da Europa se renderam ao escapismo? Não sem uma boa dose de nonsense e apuro estético.
É engraçado contrapor os 2 títulos acima, pois ambos são divertidas sátiras aos costumes elitistas franceses sobre família. No humor negro e politicamente incorreto de “Uma Juíza sem Juízo”, a personagem sacrificou sua vida social por retidão moral e legal por trás da toga na profissão, mas só com a bebedeira de uma festa de fim de ano é que descobre, meses depois, estar grávida e sem saber quem foi o pai! Sua vida vira de ponta-cabeça, assim como os processos que estava julgando. Até que um deles pode estar no epicentro de toda sua revolução de vida! Eis que surge a persona irreverente do próprio diretor como coadjuvante, Albert Dupontel, interpretando o acusado de crime hediondo que ele alega não haver cometido! Ele salva a vida dela (melhor não explicar mais nada para evitar spoilers!) e ela se sente em débito para ajudar em sua investigação.
O que acontece no fim das contas é um filme ligeiramente perdido em sua proposta inicial, sem necessariamente uma relevância existencialista a se esperar dos franceses, mas que é significativamente auxiliado pela indiscutível interpretação contida e ao mesmo tempo inversamente libertina de Kiberlain, que engole facilmente o roteiro com sua vasta experiência como com comédias à la “O Pequeno Nicolau” e “As Mulheres do 6º Andar” e dramas como “Chambon e Políssia”. No demais, a entrada de Albert Dupontel, apesar de eficiente no papel, desfoca um pouco o domínio de Kiberlain, abrindo abas quase para outro filme inteiramente diferente dentro do filme – em parte bom para quebrar o gênero dramédia romântica e quase inserir um pouco policial…, mas em outra parte não tão bom, pois ele é a parte mais fanfarrona do filme, mais caricatural! – E, como diretor, Dupontel usa toda influência de conterrâneos que apreciam experimentações com cores fortes, como o próprio filme de Guillaume, “Eu Mamãe e os Meninos”, e, diga-se de passagem, a comédia norteadora de toda uma geração maluque-te beleza: “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”.
Alê Shcolnik
Alê Shcolnikhttps://www.rotacult.com.br
Editora de conteúdo e fundadora do site, jornalista, publicitária, fotografa e crítica de cinema (membro da ACCRJ - Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro). Amante das Artes, aprendiz na arte de expor a vida como ela é. Cultura e tattoos nunca são demais!

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