- Publicidade -

Tyler Perry aborda os relacionamentos disfuncionais, em Acrimônia

Publicado em:

O diretor, roteirista, produtor e ator Tyler Perry pode não ser muito conhecido no Brasil, onde a maior parte de suas produções foi lançada diretamente em home video, porém sua figura e seu trabalho são famosos em solo americano. Tendo começado sua carreira produzindo para os palcos, Perry lançou seu primeiro filme, Diário de Uma Mulher Negra, em 2005 e, desde então, a sétima arte tem sido sua principal ocupação, cuja franquia Medea – personagem idosa e desbocada interpretada pelo próprio Perry – é sua obra mais conhecida. No entanto, apesar de em 2009, o showman ter aparecido na lista da Forbes como o sexto homem mais bem pago de Hollywood, sua fama nos Estados Unidos não é das melhores, pois enquanto seu trabalho de inclusão de profissionais negros à frente e atrás das câmeras é louvável e celebrado, o humor raso, interpretações exageradas e roteiros por vezes prepotentes são apontados como parâmetros negativos de comparação.

Assim, sua filmografia – a qual, até agora, inclui cerca de trinta longas – não é vista como um exemplo ou uma inspiração para aspirantes a cineasta, uma vez que os trabalhos em que Perry se sai reconhecidamente bem em suas funções ele é creditado apenas como ator – como em Garota Exemplar, dirigido pelo aclamado David Fincher – ou, no máximo, produtor – como é o caso do premiado Preciosa. Contudo, quando o homem multitarefa resolve acumular mais funções em uma produção, o resultado, com frequência, não é dos melhores. Mas, sendo o seu novo filme, Acrimônia, um ponto fora da curva em sua carreira marcada pela comédia, havia uma certa torcida para que o diretor, roteirista, produtor e ator encontrasse equilíbrio em sua mais recente empreitada no campo do thriller.

No filme, Taraji P. Henson interpreta Melinda, uma mulher que está no limite de sua sanidade por causa da conturbada relação com seu marido, Robert (Lyriq Bent), o qual conheceu na época da faculdade, prometeu a ela um estilo de vida que não seria capaz de proporcionar e dá indícios de falta de caráter, principalmente após a garota herdar uma grande quantia devido à morte da mãe. Porém, mesmo com todos os deslizes morais e mentiras, Melinda decide se casar com o rapaz, que, ao longo dos anos gasta cada vez mais o dinheiro da esposa para investir em seu ambicioso projeto de uma bateria sustentável para carros e casas, o que custa mais do que rende, afetando toda a família.

Quando Melinda percebe que seu relacionamento chegou a um nível insustentável, ela decide deixar Robert para trás e seguir com a sua vida. Até este ponto a estrutura de drama de mistério – uma vez que o enredo não é narrado de forma linear – se mantém crível e minimamente aceitável – mesmo com a credulidade de Melinda no início sendo um fator dispersante -, contudo, quando a a mulher descobre que o projeto do ex-marido deu certo, deixando-o rico, e que ele está noivo de outra mulher, a qual está vivendo uma vida que deveria ser de Melinda, esta entra em colapso. E é neste ponto que a história começa a perder as próprias rédeas.

Não é que todo filme deva conter uma mensagem – afinal, cada vez mais as salas de cinema são tomadas apenas por entretenimento escapista -, mas, tratando-se de Tyler Perry, que adora colocar algum tipo de “moral-da-história” em suas produções – mesmo que na maioria das vezes ele se perca nesse objetivo -, era esperado que ele tentasse reproduzir algum tipo de discussão similar a do novo queridinho de Hollywood, Corra!, porém, no caso de Acrimônia, qualquer tipo e mensagem se perde e o espectador não sabe se a intenção do longa era falar sobre golddiggers, pessoas que projetam sua felicidade do outro, sobre relacionamentos disfuncionais, ou uma simples história de vingança. E esta virada – ou perda – de rumo do roteiro traz para a tela a essência de seu idealizador. O que não é uma coisa boa.

Enquanto os dois primeiros atos focavam em desvendar como Melinda chegou àquele estado de rancor e loucura por meio de flashbacks que se alternam com suas conversas durante sessões de terapia, o arco final do roteiro ganha um tom deslocado, histérico e novelesco digno de um folhetim mexicano, que, por vezes, beira a auto paródia – e a pior parte é que isso não parece ser intencional. Nem mesmo o talento inegável de Taraji P. Henson consegue dar um pouco de sobriedade à trama, a qual acaba por reunir as características mais marcantes das obras de Tyler Perry, ou seja, diálogos sofríveis e uma óbvia falta de profundidade – por mais que intenção seja exatamente o contrário -, soma-se isso a alguns efeitos visuais pobres, e o resultado é uma produção que não tem material o suficiente para alcançar suas pretensões. Assim, a incursão de Perry por terrenos mais sérios se mostrou inglória, já que o produto desta equação é risível, mesmo que Acrimônia não seja uma de suas comédias.

 

Mais Notícias

Nossas Redes

2,459FansGostar
216SeguidoresSeguir
125InscritosInscrever
3.870 Seguidores
Seguir
- Publicidade -