- Publicidade -

Sandra Kogut fala da importância da elipse em Três Verões

Publicado em:

Filme teve estreia mundial no Festival de Toronto.

A cineasta Sandra Kogut leva os reflexos da Lava Jato pelas diferenças sociais, em Três Verões, filme que deveria ter seu lançamento em março de 2020, porém, por conta da pandemia do Coronavírus teve sua estratégia de lançamento reinventada. O filme que estreou em drive-ins no dia 03 de Setembro, agora, também está disponível no streaming  a partir de 16 de Setembro, no Telecine, Now, Vivo Play e Oi Play.

Em Três Verões, você retrata os reflexos da Lava Jato através das diferenças sociais, o que te levou a escrever e dirigir essa história?
Sandra Kogut – Na época que comecei a escrever esse filme, a gente tava vivendo no Brasil, uma séries de escândalos de corrupção. Era, quase assim, como se estivesse assistindo uma novela. Capturava o país inteiro, todo mundo ficava acompanhando. E me deu muita vontade de falar sobre isso, ao mesmo tempo, eu me perguntava quem são as pessoas que orbitam envolta dessas figuras ricas e poderosas. Porque essas pessoas nunca apareciam, nessas histórias, eles eram figurantes, eles eram invisíveis.

Então, me deu vontade de falar sobre esse momento através do olhar dessas pessoas. Ai, eu me fiz essa pergunta, “O que acontece com os empregados quando os patrões saem de cena?”, vou daí que esse projeto nasceu.

Sandra Kogut fala da importância da elipses em Três VerõesGostaria de saber o porquê da escolha de Regina Casé como protagonista? Aliás, como foi o processo de escolha de todo o elenco?
Sandra Kogut – A Regina é uma amiga, uma parceira da vida toda! A gente se conhece há muitos anos, pelo menos uns 30 anos. Já trabalhamos muito juntas, como o “Brasil Legal”, na TV Globo.

A gente tinha se prometido fazer um longa, eu meio que devia isso à ela e ela à mim. Eu cheguei a ter um projeto de um longa na França, na época que eu morava lá, que seria com ela, mas eu acabei não rodando ele. Mas, enfim, eu tinha que encontrar o projeto certo, né, que tivesse uma personagem que eu achasse que era boa para ela. Assim, ela se encaixou perfeitamente em Três Verões. A Regina é uma grande atriz, o registro no qual ela trabalha e que a gente trabalhou muito nesse filme, é uma coisa que me interessa demais, porque é muito o que eu procuro.

Já as outras pessoas do elenco, todas vem de algum tipo de relação comigo. Ou são pessoas que trabalhei e gosto muito, ou pessoas que eu já sonhava trabalhar, aliás, o Rogério Fróes foi uma honra tê-lo no filme. Ele é um grande ator do teatro brasileiro! Eu quando escolho as pessoas, eu sempre procuro encontrar uma espécie de terreno comum entre eles e o personagem.

Além disso, eu gosto de criar laços profundos tanto com os atores quanto com a equipe técnica. Três Verões. foi um processo muito prazeroso, tinha uma energia coletiva muito boa nesse set.

Confira critica do filme!

Três Verões Regina assume lindamente o papel, ela traz veracidade à trama com divertidas frases de efeito em profusão. Madá tem aquela desenvoltura típica de quem trabalha no mesmo lugar há um bom tempo, criando uma intimidade tipicamente brasileira com os patrões. Como vocês desenvolveram a criação da personagem? E porque trazer esse olhar tão real para cena?
Sandra Kogut – Eu acho assim, quando você faz um filme, você está falando de uma visão, um olhar de um diretor, a partir da construção de um mundo. Três Verões, por exemplo, critica um certo momento de um projeto de Brasil neoliberal, mas, ao mesmo tempo, a maneira que o filme usa para fazer isso são os personagens, é o lado humano, né. É por ali que você se conecta, então é sempre muito importante para mim, que esses personagens eles não sejam tipos, eles realmente são pessoas, eu acho que ali, digamos “Vilões”, eles são humanos, eles tem fragilidades, você reconhece, você lembra de pessoas como eles. Além de poder até se emocionar com eles. O filme não cria estereótipos.

 Na trama, você mistura comédia e drama, tornando o filme uma dramedia, essa escolha foi proposital?
Sandra Kogut – O humor é uma ferramenta muito poderosa para você convidar as pessoas para dentro de um filme, né. O humor é uma coisa generosa, você traz as pessoas para dentro da sua história. Eu desde o início tinha vontade de usar humor, mas, ao mesmo tempo, essas etiquetas de gêneros são complicadas, né, eu acho que o filme tem um pouco de coisas diferentes. Acho difícil caber dentro de uma etiquetas dessas. Não qualquer humor que eu gosto, eu gosto desse humor que está no lado humano, que você não está rindo dos personagens, mas sim, rindo junto com eles. São escolhas, né, é a estética de cada um.

O filme entrega elipses de um ano de distância, onde muito acontece sem ser mostrado. Perceber tais mudanças faz parte do jogo narrativo estabelecido com o espectador?
Sandra Kogut – A ideia das elipses, ela não é só um efeito, né. Assim, há muito tempo eu tinha vontade de fazer um filme numa casa de campo ou de praia, onde você só visse a história dessa família, quando eles estão de fato nesse lugar. Mas porque eu não tinha feito ainda? Porque era só uma ideia, né, aquilo tinha que se prestar à alguma coisa maior, que ser uma boa ideia para contar aquilo que a gente vai contar. No caso do Três Verões, essa estrutura de elipse, ela é o que permite a gente contar essa história. Uma história que todo mundo já ouviu e acha que conhece. A gente está falando de uma história que nunca ninguém ouve, que nunca é contada.

O fato de serem elipses permitem fazer isso. Porque essa história, ela acontece, justamente, nas horas que a gente não está vendo, né. Ai, a gente pode contar o que acontece no filme, a história do que acontece com os outros, com todo mundo que é marginal na trama. A gente consegue fazer isso graças a essa elipse.

Três Verões é um filme que se apropria da realidade brasileira para fazer um estudo microscópico sobre a falência de sua sociedade. Como é transpor o seu olhar sobre uma temática tão próxima da realidade? Seu processo de criação começa quanto tempo antes?
Sandra Kogut – O senso comum diz que você nunca deve falar de uma coisa que está acontecendo, enquanto ela ainda está acontecendo, né, porque você não tem distância, porque existe um certo tempo de amadurecimento. E a gente fez exatamente isso, né, o que dizem que não se deve fazer, mas é porque eu acho o contrário, ainda mais num filme de ficção é muito rico quando a gente está o tempo todo sendo lembrado que existe uma coisa que é maior que o filme, que é o que está acontecendo lá fora e alimenta o filme.

Quando a gente estava procurando locação, aquela cena do barco onde é feito um tour, a gente, de fato, viveu. Aliás, a gente viveu várias vezes situações que estavam no roteiro durante todo o processo. Isso era muito bom porque ia alimentando o filme, né, Três Verões dialoga com a realidade. Ao mesmo tempo, ele tem uma relação com tempo muito interessante, como ele se passa entre os anos de 2015 à 2017, quando ele acaba, ele  está entrando no ano de 2018, o ano que trouxe pro Brasil a chegada da extrema direita no governo. Então, o filme é justamente um retrato desse momento anterior, e é impressionante quando você assiste o filme você vê como os sinais, do que estava por vir, estão todos ali.

Alê Shcolnik
Alê Shcolnikhttps://www.rotacult.com.br
Editora de conteúdo e fundadora do site, jornalista, publicitária, fotografa e crítica de cinema (membro da ACCRJ - Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro). Amante das Artes, aprendiz na arte de expor a vida como ela é. Cultura e tattoos nunca são demais!

Mais Notícias

Nossas Redes

2,459FansGostar
216SeguidoresSeguir
125InscritosInscrever
3.870 Seguidores
Seguir
- Publicidade -