Karim Aïnouz faz viagem pessoal em documentário intimista.

Viajando pela primeira vez à Argélia, terra de seu pai, o diretor cearense Karim Aïnouz fez, surpreendentemente, um diário de viagem filmado ao país em que seu pai nasceu, em Marinheiro das Montanhas. 

Exibido no Festival de Cannes de 2021, o filme que recebeu 15 minutos de aplausos, traz muito além dos registros da viagem. Com filmagens caseiras, fotografias de família, a trama faz uma costura entre a história de amor dos pais do diretor, a Guerra de Independência Argelina, memórias de infância e os contrastes entre Cabília (região montanhosa no norte da Argelia) e Fortaleza.

Numa tentativa de se reconectar com a sua história, Karim busca pela figura paterna através de uma carta depoimento para sua mãe. Esse é o mote de Marinheiro das Montanhas.

O longa acompanha Aïnouz em uma jornada há muito postergada e a qual ele gostaria de ter feito com a mãe Iracema antes dela falecer. É a ela que o diretor dedica as imagens que grava, narrando como se fosse uma longa carta para ela. Aliás, é através de sua câmera, que Karim faz um longa afetuoso, entrelaçando passado, presente e futuro em uma travessia que mais parece um dilema. Além disso, o longa é um tributo familiar, que leva o espectador para uma jornada com profunda afetuosidade.

 A escolha narrativa e estética é puramente autoral e jornalística, pelo olhar de um homem em busca da própria história. Marinheiro das Montanhas é um documentário pessoa , assim como Kleber Mendonça Filho, em Retratos Fantasmas,  aqui, o cineasta conta parte de sua história falando de revolução e de utopia.

A sensação é que Marinheiro das Montanhas é o longa mais pessoal do diretor, ao abrir as portas da história de amor de seus pais. De certa forma, poderia ser um álbum de família. Karim cria um filme documental pessoal intimista e modesto.